EXPOSIÇÕES

Súbita Rajada de Vento

Pátio Savassi - piso L2 ao lado da bilheteria do cinema 

 16 de março de 2022

Inesperada, abrupta. Impensável! O sopro da transformação germina da essência humana na incessante busca pela tríplice conexão: a espiritual ao se acolher o próprio “eu”, o afetivo ao se conectar aos demais entes e o material, ao se defrontar com o mundo inanimado. Tal movimento, ininterrupto, permeia a existência humana e a conquista, efêmera, anuncia novos ciclos. Incessante agir sob frágil equilíbrio na esperança da liberdade diante de uma das maiores ilusões: a cisão do tempo. Obstrui-se a mente entre culpas, diante de fatos passados, e ansiedades por pressuposições. O presente, única certeza, deve ser experienciado contrariamente à impossível investida a fim de ser eternizado.

Paulo Apgáua, brilhantemente, cromatiza o movimento humano em estáticos suportes. Ao apreciar suas obras, aguarda-se a sequência cinética, tamanha a expressão corporal. Lançar-se, única alternativa humana representada em telas incompletamente preenchidas a oferecer a reflexão sobre o vazio. Necessita-se preencher o tempo, continuamente, a fim de abastecer-se da inútil sensação de utilitarismo? Uma música somente a é ao encerrar intervalos das notas musicais, assim como a figura humana representada na tela necessita de seus vazios. Só há possibilidade de surgir algo singular e significativo diante do interlúdio, espaço para seu pouso, sob risco de deixarem-se esvair as oportunidades. O movimento somente existe diante do espaço vazio que permite o intercurso durante lapso temporal. Assim, espaço e tempo, frutos da mesma fecundação. Espaço no tempo, vital velocidade.

O contraste entre a ilusão da paralisia planetária pandêmica e o movimento humano se sobressai ademais a partir da contraposição cromática de Apgáua. Os tons frios e etéreos, do espírito e da essência humana entrelaçados a tons quentes da concretude, do material e do visível a nos alertar da indissociabilidade de tais aparatos que nos compõem. A humanidade, fractal, composta por indivíduos representativos do todo, mergulhados na imensidão da diversidade, não se aflorando protagonistas, personagens ficcionais. Não há ação humana independente, tão somente o único protagonismo possível é fruto de entrelaçadas mãos. 

Texto de Gui Mazzoni